quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Processo de encenação: visões primeiras





Quem vem lá?

É a primeira frase em Hamlet e é a pergunta que permanece em nós, nos desafiando, nos instigando e nos emocionando.

No primeiro dia de ensaio o diretor Marcio Aurelio perguntou ao elenco: “Por que Hamlet?” e “o que em Hamlet interessa aos Clowns de Shakespeare?”

As respostas foram variadas e coerentes — falaram da felicidade de poder montar peça de tão grande importância e significado histórico; da responsabilidade de trazer à cena o texto que é considerado a maior tragédia de Shakespeare e que foi e é encenado pelos maiores nomes das artes cênicas desde sempre; da coragem de um grupo de atores, que comemora vinte anos de existência, de se aproximar da maioridade enfrentando esse enorme desafio — e traziam no seu bojo a expectativa da realização de um trabalho de tal monta com um diretor cuja marca é a da encenação que visa sempre a investigação do ser humano e da sociedade em que vive, a sociedade a moldar a índole do indivíduo.

O processo partiu de uma profunda análise do texto, quase uma desconstrução mesmo, estudando o percurso dos personagens de modo a que possam vir a ter personalidade e caráter bem delineados. Isso, sempre considerando porque personagens e história interessam aqui e agora, qual o foco da narrativa, o que é fundamental permanecer e o que pode ser dispensado e, principalmente, questionando como “apresentar” e “representar” a argumentação escolhida, visto que Hamlet — a peça — é uma poética sobre a representação.

A transmutação da teoria em prática é sempre difícil. Mas na segunda semana de ensaios, delineada a trajetória do espetáculo, já tínhamos esboçadas as cenas do primeiro ato. Seguimos buscando o traço definido, a cor exata, a impressão nítida.

Ao mesmo tempo em que se faz o tratamento no texto, com cortes e adaptações das cenas, ideias vão surgindo para a elaboração do figurino e do cenário, o que advém do domínio da narrativa a ser desenvolvida.

Os personagens estão distribuídos entre os atores e a cena já descobriu seu tom. Seguimos adiante.

Lígia Pereira
Assistente de direção

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